Em 2010, Olivier Bernhard anunciou aos amigos que estava deixando seu cargo executivo na badalada empresa suíça de móveis Vitra para seguir um novo caminho. “Ele me mandou uma mensagem no LinkedIn: ‘Vou começar uma marca de tênis de corrida’”, lembra Alex Griffin. “Minha reação foi: ‘Boa sorte! Quem precisa disso?’”
Bernhard, ex-campeão de duatlo e vencedor de várias competições Ironman, já havia apresentado uma ideia para a Nike: um tênis que maximizasse o prazer de correr, com um design que amortecesse o impacto e impulsionasse o corredor para frente. Ele dizia que proporcionaria a sensação de “correr sobre nuvens”. A Nike recusou. Então, ele decidiu criar seu próprio protótipo, cortando uma mangueira de jardim de borracha e colando os pedaços nas solas de um par antigo de tênis Nike. “Por favor, me diga que você não investiu dinheiro nessa ideia”, comentou outro amigo, Caspar Coppetti. O design ficou conhecido como “Cloudtec” e se tornou o alicerce da On, a marca esportiva que Bernhard cofundou com Coppetti e outro amigo corredor, David Allemann. Em 2021, 11 anos após sua criação, a On estreou na Bolsa de Valores de Nova York com uma avaliação de US$9 bilhões. No ano passado, alcançou quase US$2 bilhões em vendas. A empresa tem crescido entre 70% e 80% anualmente nos últimos sete anos, consolidando-se como a marca de calçados que mais cresce no mundo.

Foto: Aaron Tilley
E parece que está apenas começando. A On já anunciou sua intenção de dobrar a receita até 2026, atingindo US$ 4 bilhões. Os tênis de corrida da marca, conhecidos pelas linhas de tubos horizontais nos solados — descritos por um crítico como parecendo “rigatoni colado nas laterais” —, estão agora disponíveis em 10 mil pontos de venda em mais de 60 países. A expansão foi tão rápida que a On já mudou de escritório seis vezes. Hoje, 900 dos 2.700 funcionários globais da empresa trabalham em um prédio moderno e projetado sob medida em Zurique: o On Labs, um imponente edifício de 14 andares no antigo distrito industrial da cidade. Curiosamente, ninguém na equipe de gestão da On tinha experiência prévia com calçados ou vestuário esportivo. “Reúna pessoas que não sabem nada sobre o que estão fazendo e deixe que elas resolvam”, diz o bem-humorado Alex Griffin, a conexão de Bernhard no LinkedIn, que entrou na empresa como diretor de marketing há sete anos. “Ninguém pediu um tênis de corrida vindo da Suíça. Nós tivemos que contar essa história.”
A Esquire está na biblioteca do oitavo andar do On Labs, com vistas dignas de um cartão-postal para as montanhas suíças. Mas minha primeira interação com Alex Griffin foi no elevador, em uma manhã de janeiro, quando ele chegava cedo para o trabalho, acompanhado de outros funcionários magros, vestidos com roupas esportivas. O On Labs tem características de uma start-up de tecnologia — arquitetura modernista em pedra, refeitório de alto padrão, mesa de pingue-pongue no terraço —, mas também elementos que o tornam único. Para começar, está na Suíça. O país é conhecido por chocolate, relógios de luxo e bancos privados, mas não necessariamente pela inovação. É famoso por sua abordagem conservadora. “Como uma empresa suíça, você aprende desde cedo que precisa se internacionalizar”, me diz Jiahui Yin, a dinâmica COO da On. “A Suíça é um país pequeno. Se você for apenas uma marca local, nunca terá uma grande influência no comportamento das pessoas. No nosso primeiro ano, já estávamos na Alemanha e na Áustria. Depois, fomos para os EUA em 2014.”
As qualidades suíças da On podem ser percebidas em outros aspectos também. Apesar de todo o burburinho sobre os solados incomuns de seus tênis, as cores e os designs da marca costumam ser minimalistas e elegantes. Seu primeiro embaixador de marca — e também um investidor significativo — foi Roger Federer, o lendário tenista com 20 títulos de Grand Slam, conhecido por sua compostura e calma. Foi Mirka, esposa de Federer, quem começou a usar os tênis da On. “No começo, achei que eles tinham um visual meio estranho”, lembrou Federer. “Mas depois percebi que, na verdade, eu gostava deles.”

Foi Federer quem abordou a On. A marca não se convenceu de imediato — e se o lendário tenista fosse famoso demais? Poderia isso ofuscar a identidade deles? (A linha de tênis resultante dessa parceria se chama The Roger.) Da mesma forma, quando Jonathan Anderson, da renomada casa de moda Loewe, sugeriu uma colaboração, a On demorou para tomar a decisão, ponderando se o amor de Anderson pelo artesanato e design seria uma combinação adequada. A parceria, agora em seu quinto ano, provou ser um sucesso.
A On ano passado assinou com dois novos embaixadores. Uma delas é Zendaya, uma escolha que parece menos ligada à fama global da atriz e mais ao fato de ela estrelar o drama artístico sobre tênis Challengers, de Luca Guadagnino. O outro é a cantora FKA Twigs, que inicialmente soa como uma aposta no hype, até você lembrar que a artista começou como dançarina — algo central em seus vídeos musicais. Larry Eder, cofundador do respeitado blog RunBlogRun, escreveu que, quando conheceu a equipe de gestão da On durante o lançamento da marca nos EUA, ficou surpreso ao descobrir que eles já tinham um plano de 10 anos — algo inédito entre start-ups de calçados americanas. Os funcionários da On com quem conversei dizem que isso não era exatamente verdade, mas concordam que há uma prudência peculiar na empresa que moldou uma cultura corporativa diferente dentro do mercado de roupas esportivas. “Às vezes contratamos pessoas que trabalharam 15 anos na Adidas ou Nike, e elas chegam com a expectativa de serem os especialistas da indústria”, diz Yin. “E a reação delas é: ‘Meu Deus, tudo aqui é tão diferente.’”
Ah, sim, Adidas e Nike. E o restante do mercado de tênis de corrida. Até 2020, a Nike liderava confortavelmente o segmento, sua maior categoria. Agora, parece estar desacelerando. Em junho do ano passado, a marca anunciou que suas vendas cairiam cerca de 5%, um comunicado que derrubou o preço de suas ações em 20%, levando-as ao menor patamar em quatro anos. Isso veio após a decisão de cortar US$ 2 bilhões em custos nos próximos três anos, incluindo demissões. A marca enfrenta seu pior momento desde o final dos anos 1990, descontando os impactos da pandemia e da Grande Recessão.
Não há um único motivo para isso. Uma longa reestruturação interna sob um novo Ceo coincidiu com a saída de designers, especialistas em marketing e executivos sêniores. A empresa abandonou divisões organizadas por esportes e passou a separá-las por categorias como homens, mulheres e crianças, mas agora está revertendo essa estratégia. Também focou no mercado de tênis retrô, aproveitando a popularidade dos Air Jordans e Air Force 1 vintage. No entanto, lançamentos como o Book 1, um tênis de basquete lançado em abril, não tiveram impacto significativo. Em contraste, a On gerou manchetes em julho com seu modelo olímpico Cloudboom Strike LS, um tênis revolucionário com tecnologia de aplicação em spray. Mais preocupante para a Nike, a marca não dita mais a agenda cultural como fazia nos dias de campanhas icônicas como “Dream Crazy” (2012) e “Failure” (1997). Considerando que a marca foi responsável por algumas das maiores campanhas publicitárias da história, isso é um desafio considerável. “Sabemos que não estamos performando em nosso potencial”, admitiu o CEO John Donahoe. Este ano, a Nike celebra 60 anos de história. Não é algo que a marca tem destacado, mas aposentadoria não está nos planos. Ela ainda é a maior marca esportiva do mundo por uma margem considerável, com uma receita global de US$ 51 bilhões em 2023. Ao lado da Adidas, que faturou US$ 5,83 bilhões no primeiro trimestre de 2024, mesmo após o colapso da lucrativa parceria Yeezy com Kanye West, ela permanece muito à frente da concorrência.
O mercado de tênis esportivos está mais competitivo do que nunca. Em 2024, é possível dividir esse setor em dois grandes blocos. De um lado, os veteranos — marcas consagradas como Nike, Adidas, Puma, Converse e Vans, com décadas de experiência e um legado consolidado. Do outro, os desafiantes — nomes como On, Hoka e Salomon. Embora a Salomon tenha raízes mais antigas que a própria Nike (começou em 1940), sua entrada no mercado mainstream é recente, impulsionada pela tendência gorpcore. Hoje, a marca pertence à multinacional finlandesa Amer Sports, também dona da Arc’teryx. No momento, as chances de uma marca desafiante destronar uma gigante individualmente são pequenas. Mas, juntas, elas estão cada vez mais próximas de alcançar as líderes de mercado.
O consumo global de roupas e calçados esportivos saltou de US$ 301 bilhões em 2020 para US$ 422 bilhões em 2024 e deve chegar a US$ 512 bilhões até 2027, segundo um relatório do banco RBC publicado em junho. Dados da plataforma The Business of Fashion mostram que, entre 2021 e 2023, a receita de 13 marcas desafiantes cresceu, em média, 29% ao ano, enquanto as marcas estabelecidas avançaram apenas 8% — o mesmo período em que a Nike estagnou. As previsões para 2023 a 2026 refletem essa dinâmica. O relatório do RBC aponta um crescimento anual de 5% para a Nike, 9% para a Adidas e 13% para a Amer Sports, dona da Salomon e da Arc’teryx. Mas quem lidera o grupo é a On, com impressionantes 26% de crescimento anual projetado.
O segmento de sportstyle — adaptações modernas de tênis de corrida, trilha e hiking — atravessou fronteiras. Embora os Air Jordans continuem em alta nos sites de revenda e a Adidas tenha colhido frutos com a recente revitalização dos estilos Terrace, os aficionados por tênis estão diversificando suas coleções. Após anos acumulando Jordans e Yeezys, muitos decidiram mudar a rotação. Com isso, as gigantes perderam parte de seu brilho. Um marco dessa mudança foi o show do intervalo do Super Bowl 2m 2023. Rihanna, vista por 121 milhões de pessoas, usava Salomons — mais especificamente um par de MM6 Maison Margiela x Salomon Cross Lows, em vermelho vibrante, mais adequado para impressionar sobre uma plataforma prateada do que para escalar montanhas. Essa colaboração reflete a tendência crescente de marcas de luxo se unirem a nomes do segmento outdoor, como Gucci x North Face, Dior x Stone Island e Off-White x Arc’teryx.
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Títulos como “O que está acontecendo com esse tênis de corrida estranho?” (Gear Patrol, 2020, sobre o Hoka TenNine de solado volumoso e neon) e “Por que esses tênis de corrida grandes e feios estão vendendo tanto?” (CNN, 2023, sobre a Hoka) não são mais surpreendentes. Hoje, é tão comum ver pessoas usando tênis de trilha com solados altos e robustos ou modelos exagerados com placas de fibra de carbono envoltas em camadas de espuma ultraleve quanto o clássico Adidas Samba. O Cloudmonster Hyper da On é promovido com a frase: “quando o máximo de amortecimento CloudTec® encontra a superespuma Helion™, a máxima energia é liberada” — algo que pode parecer um pouco excessivo para quem só precisa buscar os filhos na escola.
Meu taxista no aeroporto de Zurique estava usando um par de On Cloud 5. O recepcionista do hotel também. Nenhum dos dois parecia estar em ótima forma física, sem querer ofender. “A explosão do athleisure é uma escolha visual que faz as pessoas parecerem mais esportivas. Mas o componente conforto é importante. Tênis que são ótimos para correr porque têm um interior macio e bom amortecimento também são bons para usar o dia inteiro”, diz diz Alex Griffin.
Diferentemente de marcas que mantêm a linha de que seus produtos são estritamente para esportes — mesmo quando lançam colaborações limitadas com rappers —, a On reconhece que muitos clientes só querem um calçado casual e confortável para o dia a dia. E a marca está aqui para eles também. “A On conseguiu atender às necessidades de estilo de vida de uma ampla faixa da população de maneiras que outras marcas não conseguiram”, diz Dylan Dittrich, chefe de pesquisa da Altan Insights e autor de Sneakonomic Growth. “Mas isso é uma faca de dois gumes, certo? Eles ainda não são aquele tênis superdescolado do streetwear — pelo menos, ainda não. Em vez disso, estão vendendo uma estética athleisure com um pouco mais de sofisticação. Você vê Baby Boomers usando, vê millennials, vê a Geração X.” E continia Dittrich: “E isso é propício para o crescimento, especialmente nas primeiras fases, em comparação com os concorrentes. Mas eles não querem ser vistos como um ‘tênis de pai’ e acho que dá para ver a marca tentando dar o próximo passo em direção ao segmento jovem, os sneakerheads. Zendaya faz parte desse movimento. Mas é um esforço inicial, que ainda está em andamento.”
A autenticidade tem sido um dos motores do sucesso da On. Assim como, nos anos 1960, Bill Bowerman, treinador da Universidade de Oregon, queria tênis mais leves e rápidos para seus atletas e se uniu ao ex-aluno Phil Knight para fundar a Nike, Olivier Bernhard sonhou com um tênis que melhorasse a experiência de corrida. O primeiro lançamento da On, o Cloudracer, conquistou inicialmente os corredores hardcore. A marca manteve essas raízes, patrocinando o On Athletics Club (OAC), um grupo de corredores profissionais de longa distância que treina principalmente em Boulder, Colorado; organizando corridas em grupo todas as quartas-feiras em suas lojas pelo mundo, e assinando contratos com vários atletas olímpicos, incluindo os especialistas americanos nos 10 mil metros Alicia Monson e Joe Klecker. “O OAC é um grupo legal e interessante de jovens atletas que competem nas Olimpíadas deste ano”, diz Griffin. “Eles treinam juntos, vivem juntos — são quase como uma seita de corrida.” Para a On, os benefícios dessa abordagem são claros.
“Eles têm um técnico incrível, Dathan [Ritzenhein, ex-corredor de longa distância dos EUA], e o senso de união é uma parte fundamental do processo dele”, diz Alex Griffin. “Os membros do OAC são amigos — eles até têm um podcast juntos, onde falam sobre café, veja só [Coffee Club]. Eles se apoiam mutuamente. Se um deles está competindo e os outros não, eles vão torcer por ele. Isso é diferente de outras marcas. Outros atletas agora querem fazer parte disso.”
Enquanto os patrocínios tradicionais geralmente envolvem enviar kits para os atletas a cada poucos meses e talvez encontrá-los em alguma competição, a abordagem “360 graus” da On oferece muito mais: desde orientações de treinamento e nutrição até conselhos financeiros. É um investimento em relações de longo prazo. “Não somos apenas outra Nike que dá muito dinheiro e envia produtos já feitos”, diz Jiahui Yin. “Tornamos os atletas parte da On. Chegamos até a criar produtos específicos para alguns deles, se tiverem uma necessidade especial. Realmente acreditamos que o feedback que recebemos pode, eventualmente, ser comercializado e agregar valor ao nosso negócio.”
O foco da On no marketing de base é destacado em seu relatório de IPO, e a empresa mantém um rigor quase obsessivo ao monitorar seu impacto.
“Fazemos contagens de corredores nas principais pistas de corrida do mundo, duas vezes por ano,” diz Yin. “Literalmente contamos quantos estão usando nossos tênis. É uma métrica-chave de sucesso para nós.” Quando perguntei se realmente tinham pessoas anotando manualmente os números, Yin sorriu. “É um pouco mais tecnológico. Usamos uma agência que captura imagens e identifica os logotipos. É importante não se deixar levar apenas pelo sucesso. As vendas estão subindo, e as pessoas adoram nossos tênis, mas é essencial sermos fiéis ao núcleo do produto: que ele seja usado nas pistas. Você pode vender muito, mas, se nenhum corredor estiver usando, eventualmente, você vai perder nesse jogo.”
No ano passado, a On percebeu que seus produtos estavam ficando populares entre jovens em Liverpool, na Inglaterra, conhecidos por se vestir da cabeça aos pés com uma única marca esportiva (um fenômeno que já beneficiou grifes como Under Armour). Esses jovens não eram os sneakerheads descolados nem os pais que Dittrich mencionou, mas sim uma turma casual, vestindo On no dia a dia. A marca agiu rapidamente, estabelecendo uma pop-up em parceria com clubes de corrida locais — sua primeira loja fora de Londres. Batizada de The Monster Den, o espaço foi projetado para celebrar comunidade, conexão e a alegria de correr. “Sabíamos que havia um grande fervor pela marca em Liverpool”, explicou Emily Thompson, RP da On no Reino Unido. “E nossa estratégia é ir aonde as comunidades estão.”
Essa abordagem é feita de maneira leve. Em junho passado, me deparei com um evento lotado na pista de atletismo de Parliament Hill, no norte de Londres. Não foram necessariamente os corredores na pista de oito faixas que chamaram atenção, mas sim os rappers de freestyle, engolidores de fogo, paredes de escalada e outras formas de entretenimento gratuito ao redor. Com duas filhas entediadas (de 7 e 11 anos), foi uma distração bem-vinda por algumas horas. Sentamos na grama e colorimos cartazes de um rato de desenho animado segurando a frase “You Got dis”. Um desses cartazes ainda está no quarto da minha filha mais nova. Demorei um pouco para perceber que o evento era patrocinado pela On. Ele funcionava como uma espécie de matinê para a “Night of the 10,000m PBs”, parte do Track Nights, uma série global de eventos que o site da On descreve como “o Glastonbury do mundo do atletismo”. Mais tarde, sob os holofotes da pista, competidores como a corredora de longa distância Jessica Warner-Judd e o finalista olímpico Andrew Butchart competiram por prêmios, com o maior deles indo para o bicampeão olímpico Paul Chelimo. “Levamos a corrida para as pessoas,” diz Alex Griffin. “Você pode assistir à Maratona de Londres na TV, mas corrida não é algo que atrai as massas. Então, tentamos aproximar as pessoas da pista para que sintam a energia dos atletas enquanto passam, além de criar uma atmosfera de festival em torno disso. Chamamos isso de ‘cultura da corrida’, que vai além de simplesmente assistir alguém talvez bater um recorde pessoal.”
Qual é o tamanho do sonho da On? “Temos um grande sonho,” afirma Jiahui Yin. “Mas não importa o quão grande você seja, o que realmente importa é a qualidade do seu crescimento. Se você força um crescimento excessivo, começa a fazer coisas erradas, como colocar o estoque errado no canal errado. Isso te desvia do que a sua marca realmente deveria ser.” Por exemplo, a On desenvolveu tênis para trilha porque percebeu que seus clientes estavam usando tênis de corrida acolchoados para hiking. No entanto, a marca não planeja entrar em mercados irrelevantes, como o de basquete, por enquanto. “Não vamos buscar algo que não seja relevante para nós, se nossos clientes não nos levarem até lá”, explica Yin. “Ainda temos muita demanda apenas com nossos produtos de corrida e nas verticais adjacentes. É um mercado enorme.”
Uma parte do sonho da On já foi compartilhada publicamente: atingir US$ 4 bilhões em receita até 2026. “O que estamos projetando é dobrar nossa receita”, diz Yin. “Estamos bastante confiantes de que podemos fazer isso. Hoje, estamos em quase US$ 2 bilhões. Olhe para a Nike — eles são dez vezes maiores que isso (na verdade, mais perto de 25 vezes). Mas, se você olhar para o reconhecimento da nossa marca, estamos longe disso. Fizemos um teste de reconhecimento nos EUA, nosso maior mercado, e apenas 9% dos consumidores conheciam a On. Isso mostra o quanto ainda podemos crescer. Quando fazemos nossa contagem de corredores, ainda estamos em dígitos únicos na porcentagem de atletas nas principais pistas do mundo usando nossos produtos. Isso nos dá convicção de que podemos crescer significativamente.”
Depois do futebol, a corrida é agora o esporte com maior número de praticantes no mundo. Segundo um relatório publicado em janeiro pela empresa de dados Statista, só nos Estados Unidos, 50 milhões de pessoas participaram de corridas ou jogging em 2021, último ano com dados disponíveis. No pós-pandemia, podemos considerar que estamos vivendo a “segunda onda” da corrida — a forma mais acessível e eficaz de exercício físico não era tão popular desde a febre do jogging nos anos 1970. Hoje, clubes de corrida se tornaram o novo ponto de encontro social. Aplicativos como Strava e Map My Run incentivam as pessoas a compartilharem seus progressos e recordes pessoais. O Apple Watch colocou o movimento no centro de sua proposta. Meias maratonas evoluíram de um desafio de resistência de nicho para um objetivo fitness amplamente aceito. Estar em forma está na moda, e a corrida é grande no TikTok.
Quando a On estreou na Bolsa de Valores de Nova York em 2021, seus cofundadores e funcionários organizaram um grupo de cem corredores, que atravessaram o Rio Hudson até Wall Street, onde subiram para tocar o sino da NYSE. O fundador Olivier Bernhard é conhecido por fazer avaliações de desempenho e integrar novos membros da equipe enquanto corre com eles à beira do Lago Zurique. Ótimo para criar laços, mas talvez nem todos queiram interagir com o chefe assim. Bernhard, um inventor nato, cansou de esperar que sua fábrica na Ásia enviasse amostras e decidiu construir um Maker Space no térreo do On Labs. Agora, quando alguém tem uma ideia, a equipe usa PVA, cortadores a laser e impressoras 3D para criar protótipos de tênis em questão de horas. No On Labs, fui recebido no Maker Space por Thor ter Kulve, responsável pelo espaço. O ambiente é deliciosamente artesanal — ferramentas espalhadas sobre mesas e o forte cheiro de solvente no ar. Os protótipos feitos pela On são chamados de “monstros”. “Porque”, explica Ter Kulve, “são muito feios.” Ele pega uma versão abortada do Cloudsurfer, um modelo para corrida de rua, e explica: “A ideia era mudar os tamanhos das cavidades na entressola e suas localizações para influenciar positivamente o jeito como alguém corre.” O modelo tinha tantos buracos que parecia um pedaço de queijo. “Todos rimos desse queijo suíço”, diz Ter Kulve. “Mas a On foi fundada com a ideia de cortar uma mangueira de jardim em pedaços e colá-los em um tênis. É essa mentalidade que gostamos de manter viva.”

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A loja principal da On na Suíça está conectada ao On Labs, um espaço de 350 metros quadrados construído no mesmo estilo industrial e iluminado de seus escritórios. Lá, conheci Bianca Pestalozzi, gerente-geral para a região EMEA, que me apresentou toda a linha de produtos e destacou a Magic Wall, uma prateleira escondida que armazena todos os modelos e tamanhos de tênis, agilizando a experiência do cliente. “Normalmente, em uma loja de calçados, o processo é um pouco fragmentado”, explica Bianca. “Um vendedor desaparece no estoque por 10 minutos para ver se há o seu tamanho. Queremos mudar isso.” Os clientes são incentivados não apenas a experimentar os tênis na loja, mas também a dar uma volta correndo no quarteirão para testá-los de verdade. Uma ideia inovadora da On é a linha Cyclon, roupas esportivas projetadas para serem recicladas. Embora muitas marcas agora busquem se associar à sustentabilidade, a Cyclon se destaca com algo realmente diferente. A linha, que atualmente inclui três modelos de tênis e uma camiseta, está disponível apenas por assinatura. Você paga uma taxa mensal e, quando os itens estão desgastados, os devolve para receber um substituto. A On recicla os produtos devolvidos. (O fato de serem todos sem tingimento faz parte do apelo — quem não gostaria de destruir um par de tênis de espuma branca impecável?) “Tivemos que pensar em como levar isso ao mercado”, diz Alex Griffin. “As pessoas não estão acostumadas a devolver tênis. No fim da vida útil, eles acabam em uma lixeira de reciclagem, se tivermos sorte. Então, a ideia era criar um tênis que você nunca realmente possui. No final de seu ciclo de vida, depois de quilômetros percorridos, você recebe um novo.”
A iniciativa lembra a linha Space Hippie da Nike, lançada em 2020, descrita pela marca como “inspirada pela vida em Marte — onde os recursos são escassos e não há missões de reabastecimento. Criados a partir de sobras, ou ‘lixo espacial’, Space Hippie é o resultado de práticas sustentáveis combinadas com design radical.” Os tênis tinham um visual impressionante, com uma mistura de cores e formas que lembrava uma colagem futurista. No entanto, a recepção foi mista. Um vídeo publicitário produzido pela Nike mostrava seus funcionários montando alegremente os tênis com sobras de materiais. Apesar disso, muitos comentários no YouTube questionavam as credenciais ecológicas do projeto. “Aposto que essa fábrica é ótima para o meio ambiente”, ironizou um usuário. Outro sugeriu: “Fechem as fábricas e reduzam o catálogo”.
Na loja principal da On na Suíça, um dos destaques na parede é o protótipo original de Olivier Bernhard: um tênis antigo da Nike coberto com fita adesiva e pedaços de mangueira de jardim colados de forma rudimentar. “Não inventamos isso!” diz Bianca Pestalozzi, gerente-geral da região EMEA. “Foi assim que tudo começou.”