Apenas dois dias depois de se tornar campeão do ATP 250 de Buenos Aires, o brasileiro João Fonseca, 18, sucumbiu diante do francês Alexandre Muller, que o eliminou do Rio Open após derrotá-lo em dois sets: 6/1 e 7/6. Com o revés, no mesmo campeonato em que surgiu como grande promessa do tênis há um ano, Fonseca perdeu, por ora, dez posições no ranking da ATP. Foi um balde de água fria para o movimento on e offline de torcida pelo jovem tenista: o fonsequismo.
Carioca, nascido em 21 de agosto de 2006, o tenista, no entanto, é low profile. Uma espécie de quiet idol, bem protegido por patrocinadores e pela família da sanha midiática em torno de seu nome. Mas o fonsequista é, antes de tudo, um forte. E a torcida pelo tenista, que se tornou o brasileiro mais jovem a conquistar um torneio de ATP, já até cruzou o Equador e chegou ao Instagram do Miami Open (19 a 30/3), com uma foto do atleta e uma legenda em português: “João tá vindo”.
Nas redes, as sociais, o fonsequismo virou hashtag, que marca fotos suas na infân-cia, ao lado de ídolos como Gustavo Kuerten e Rafael Nadal; reels de fãs jogando tênis nas ruas da capital argentina, pré-ATP (*Aquecendo pro fonsequismo nas calles de Buenos Aires); propaganda de adesivo e camiseta do “Fonsequismo Sport&Club”.
Tem também uma definição, em inglês, do movimento:
Fonsequismo
(fawn-seh-kees-mo) noun.
1. Ultimate dedication to and unwave-ring support for Brazilian tennis player João
Fonseca (dedicação total e apoio inabalável ao tenista brasileiro João Fonseca.)
2. A way of life. (um estilo de vida)
Não só de anônimos vive o fonsequismo. Fundador e presidente executivo do conselho de administração da XP Inc., empresa patrocinadora do tenista, Guilherme Benchimol conta à Esquire Brasil que ouviu falar de João Fonseca pela primeira vez quando o atleta ainda estava no circuito juvenil. Segundo ele, algumas pessoas do meio do tênis já comentavam sobre um jovem brasileiro muito promissor, com um jogo agressivo e um enorme potencial.
“Mas foi em 2023, durante Wimbledon, que eu realmente tive a chance de vê-lo jogar de perto. Viajei para assistir ao torneio, porque sou apaixonado por tênis, e fiz questão de acompanhar uma de suas partidas na categoria juvenil”, lembra. “Foi ali que percebi que ele era diferente. Não era apenas um talento técnico, mas tinha uma postura de campeão, um olhar determinado, como se já soubesse que estava ali para fazer história.” O empresário afirma que sempre conviveu de perto com o mundo esportivo e sabe reconhecer o olhar de um campeão.
“O João é focado e desde sempre disse que seria o número 1 do mundo”, conta. “Foi essa ousadia que mexeu comigo. Além disso, os resultados dele falam por si só. Em 2023, terminou o ano como melhor juvenil do mundo, em 2024 saltou mais de 600 posições no ranking, venceu o Next Gen ATP Finals, um torneio que reúne os melhores jovens do mundo. Depois, logo no início de 2025, ele conquistou o Challenger de Canberra e fez uma campanha incrível no quali do Australian Open, vencendo na chave principal, um top 10 logo na estreia”.
Outro fonsequista é o chef Felipe Bronze, que começou a praticar tênis aos 8 anos, continuou a jogar “socialmente” até os 30, e hoje joga com seu filho Antonio, que começou a jogar aos 4 anos, está com 10, e treina na mesma academia por onde João Fonseca passou, a Yes Tennis, na Barra da Tijuca. Bronze conta que ouviu falar do atleta um pouco antes de seu filho ir para a Yes. Passou a acompanhar seus treinos e afirma que ficou abismado com o peso da bola dele. “Ele tem tudo: força, agilidade, um saque absurdo, muita potência e explosão. Daí comecei a segui-lo nas redes e trocamos algumas mensagens, sempre eu incentivando e ele, educadíssimo, agradecendo.”
O chef ressalta que Fonseca está “muitíssimo bem cercado para ser gigante”: “Tem um fisioterapeuta excepcional, o Egídio; o Manolo, baita craque de preparação física e o Guilherme, o head coach, um cara diferente, atento e inteligentíssimo, que também poderia estar caindo nessa armadilha do sucesso mas que, posso atestar, vendo o dia a dia, que é zero afetado. A família então nem se fala. É incrivel.”
Procurados pela reportagem, pai e mãe de João Fonseca não responderam. Mas o silêncio é até alvissareiro, se pensarmos nos desgates que a hiperexposição provoca, especialmente em jovens da Geração Z, como o tenista. As experiências de sucesso dos pais podem estar por trás dessa “economia” da imagem do atleta. Roberta Fonseca foi jogadora de vôlei. Christiano Fonseca Filho, o Crico, é um dos pioneiros do mercado financeiro no Brasil. Em 1988, aos 24 anos, ele fundou no Rio, em sociedade com Roberto Vinháes, a Investidor Profissional, primeira gestora independente do país.
Quanto ao “oba-oba” da torcida brasileira, “carente de ídolos e boas notícias”, Bronze é cauteloso. “Essa onda de ‘fonsequismo é o maior paradoxo pra ele: ao mesmo tempo em que o esporte e ele precisam disso, pela chama da paixão, a torcida pode se virar contra nos primeiros resultados negativos”, pondera. “Tênis não é futebol, é um esporte de campanhas, não somente de campeões. A torcida brasileira valoriza o campeão, e isso não pode se voltar contra ele, mais ainda no comecinho da carreira.”